No tenista jovem que ainda está em pleno processo de crescimento e desenvolvimento (particularmente rápido no período do salto pubertário “spurt period”), as cartilagens de crescimento existentes nas extremidades dos ossos longos (epifíses) são particularmente vulneráveis a lesões por sobrecarga mecânica (forças de compressão) resultantes quer de macrotraumatismos, quer de repetições exaustivas dos mesmos movimentos (p.ex. serviço e smash) gerando microtraumatismos repetidos cujos efeitos cumulativos excedem a capacidade de adaptação biológica da estrutura osteo-articular aos esforços solicitados.
Nas zonas osteo-articulares de inserção músculo-tendinosa e capsulo-ligamentar as lesões ocorrem por forças de tracção repentinas exercidas por essas estruturas que nos jovens são mais fortes e resistentes que os locais de inserção, podendo originar a sua inflamação e nos casos mais graves padrões de ossificação irregular com perturbações no crescimento ósseo e mesmo lesões (fracturas) por arrancamento ou avulsão.
Estas lesões são mais frequentes no joelho (inserção do tendão patelar na tíbia - "Doença de Osgood-Schalatter"), calcanhar (inserção do tendão de Aquiles no calcâneo - "Doença de Sever") e cotovelo (inserção dos músculos e ligamentos na epitroclea)
Outra característica destas idades (10-16/17 anos) que constitui um aspecto vulnerável, está relacionada com os diferentes ritmos de crescimento que existe entre os ossos e os músculos e ligamentos. O pico de crescimento ósseo antecede o pico de crescimento dos tecidos moles. Este facto aumenta a susceptibilidade de lesões nos locais de inserção dos tendões e ligamentos ao nível periférico dos membros e no caso da coluna lombar pode contribuir para lombalgias de natureza inespecífica sem lesões estruturais mas que por vezes são incapacitantes para o treino ou jogo.
Por outro lado os ritmos de crescimento e maturação neurobiológica são individuais e determinados pela interacção entre factores genéticos e factores ambientais.
No Ténis como nos outros desportos, a divisão por escalões faz-se exclusivamente por idade cronológica e pode haver dois jovens com a mesma idade mas com perfis maturacionais muito distintos. Esta diversidade maturacional entre opositores, pode constituir uma desvantagem para o jovem com um estadio maturacional menos desenvolvido sobretudo nas características relacionadas com potência, velocidade e força muscular podendo contribuir para um risco acrescido de lesão nesse jovem (a bola do opositor “anda mais”, é mais “pesada” colocando desafios mais exigentes).
Por último o crescimento acelerado dos diferentes segmentos corporais pode não ser de imediato acompanhado por uma coordenação neuromuscular e um controle postural eficientes originando um risco acrescido em alguns gestos técnicos mais complexos ou em situações imprevistas e bruscas que exigem respostas nem sempre rápidas e/ou eficazes.
Os treinadores destes jovens conhecem bem estes períodos em que os seus atletas parecem mais descoordenados, mais lentos e com menor capacidade de resposta a situações novas e/ou imprevistas.
Os jovens tenistas com aspirações a competirem internacionalmente aumentam exponencialmente o tempo de exposição ao risco antes dos grandes eventos. O aumento não gradual do tempo e intensidade de treino cria riscos adicionais de lesão no jovem atleta em fase de crescimento/maturação, pelo que o processo de planeamento da actividade deve incorporar formas de recuperação do esforço, aportes nutricionais adequados, alternância de treino das diferentes componentes da actividade e reconhecimento de indicadores que nos indicam que os limites fisiológicos e psicológicos estão a ser testados.
O planeamento de qualquer actividade desportiva deve reconhecer as necessidades individuais de cada jovem atleta, identificar em que fase do processo de crescimento e maturação se encontra, conhecer os constrangimentos e limites inerentes, para que possa incluir componentes individuais adequadas (treino personalizado).
Raul Oliveira Fisioterapeuta,
Faculdade de Motricidade Humana