segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

LESÕES MUSCULARES NO TENISTA






TENNIS LEG

No ténis os gestos com mudanças bruscas de direcção e/ou velocidade (corrida, deslocamentos laterais, verticais e oblíquos, arranques/travagens, movimentos de rotação, saltos) aumentam o risco quer de lesões agudas (lesões musculares nos gémeos são dos casos mais frequentes) quer de lesões por sobrecarga no membro inferior (tendinopatias do tendão de Aquiles).

A maioria das lesões agudas ocorrem no membro inferior enquanto que as lesões crónicas e/ou as lesões por sobrecarga afectam mais os segmentos do membro superior (ombro e cotovelo) e a coluna lombo-sagrada.

Os mecanismos desencadeantes das lesões musculares estão normalmente relacionados com 2 tipos de acções: a) estiramentos bruscos e/ou excessivos em contracção; b) Contracções musculares potentes com o músculo em estiramento. Os músculos mais afectados no tenista por esse tipo de lesões são os Gémeos – músculos da região posterior da perna, os hamstrings - músculos da região posterior da coxa, o quadricípite crural (região anterior da coxa) e os adutores (região interna da coxa). A maioria destes músculos actua em 2 articulações diferentes o que exige processos de coordenação inter e intra-musculares eficientes.
Há um conjunto de factores predisponentes das lesões musculares referidas atrás que se devem controlar quando se pretende implementar um programa de prevenção. Entre eles destacamos:
a) limitações de flexibilidade desses músculos;
b) desequilíbrios musculares entre músculos com acções opostas
c) situações de grande fadiga (local e geral);
d) Condição física de base inadequada e preparação prévia (vulgar aquecimento) insuficiente;
e) lesão muscular anterior no mesmo local
f) patologia sistémica à distância (ex. focos infecciosos à distância como é o caso de uma cárie dentária ou amigdalite, perturbam o sistema imunitário de defesa).


Independentemente dos mecanismos desencadeantes e dos músculos afectados as lesões podem ocorrer sem haver história anterior de lesão ou queixas nessa estrutura – 1ª lesão, ou serem recidiva de lesão anterior ou seja existir uma história passada de lesão nessa estrutura (pelo menos uma vez), mas com recuperação completa da mesma.

O quadro clínico de sinais e sintomas varia consoante a gravidade e extensão da lesão bem como o local do músculo afectado. Normalmente a instalação da dor tipo “picada ou facada” tem um início súbito e geralmente é bem localizada. Quanto maior for a extensão dessa lesão inicial maior será a incapacidade funcional resultante e como falamos de músculos do membro inferior a marcha e a locomoção normal podem ser afectadas. O edema e hematoma locais também variam consoante a gravidade da lesão inicial e podem demorar até 2 dias a aparecerem, sobretudo no caso de lesão muscular menos superficial. Nos casos mais graves pode ser visível e/ou palpável uma deformação nos contornos musculares.

É típico no caso das lesões nos gémeos (o gémeo interno na transição músculo-tendinosa é o local mais frequente) o tenista quando faz um arranque ou travagem bruscas, sentir uma dor aguda, violenta que descreve como uma sensação de “pedrada” ou de “tiro” que lhe dá uma incapacidade funcional imediata se a lesão for significativa.

Este quadro clínico descreve o que se designa por “tennis leg e é a lesão muscular mais frequente no tenista sénior (acima dos 35/40 anos). Por vezes o tenista já sente alguns sintomas minor mais ou menos localizados que ignora ou que pensa que é apenas cansaço local ou caimbras. Nestes casos pode ser um indicador de uma pequena lesão que depois se agrava.

Os objectivos terapêuticos desta fase passam por controlar a resposta inflamatória, melhorar a nutrição tecidular e a drenagem das substâncias indesejadas e reduzir a dor e o edema/hematoma locais.

Para isso o tenista deve consultar um fisioterapeuta ou um médico com experiência em lesões desportivas e realizar de imediato um conjunto de procedimentos terapêuticos que são descritos de uma forma sucinta pelas iniciais inglesas PRICE. Cuidados Precoces em termos de Repouso selectivo do segmento afectado, frio ou gelo local (Ice) (10 a 20 min de 2 em 2 horas nos primeiros 2 dias), Compressão selectiva da zona lesada e Elevação do membro.

Deve-se ainda evitar fazer calor local bem como qualquer forma de massagem (elementos vasodilatadores agravam a reacção inflamatória) e actividade excessiva sobre estrutura lesada.

Após a fase aguda (até 48/72 horas) inicia-se o processo de remodelação muscular que pode levar de 3 a 6 semanas consoante a gravidade da lesão inicial e a adequação do conjunto de cuidados prestados na fase pós-lesão que são determinantes no tempo de recuperação. Nesta fase é necessário o acompanhamento por parte de um profissional (médico ou fisioterapeuta) com experiência em lesões desportivas, uma vez que um tratamento inadequado aumenta o risco de recidivas, particularmente após retornos à prática do ténis demasiado precoce e indevidamente orientados.

Sabemos que o processo de reparação tecidular muscular bem sucedido (em termos anatómicos) pode-se fazer em cerca de 3 semanas, mas a remodelação completa e a (re)aquisição das características de força, flexibilidade, coordenação neuromuscular exigem mais tempo e sobretudo um planeamento gradual de reintegração no treino (ao longo de 2 a 3 semanas nos caso mais graves) evitando na fase inicial os movimentos a elevada velocidade, as mudanças bruscas de direcção e/ou velocidade.

O músculo lesado apenas estará totalmente recuperado em termos funcionais e plenamente integrado na sua cadeia cinética de movimento após um programa de reeducação funcional onde entram os exercícios de flexibilidade e de fortalecimento específicos numa fase inicial e os gestos específicos da modalidade numa fase mais tardia.

Raul Oliveira
Fisioterapeuta, R´Equilibri_us - Gabinete de Fisioterapia
raulov@netcabo.pt
Faculdade de Motricidade Humana
Escola Superior de Saúde de Alcoitão
(excertos de artigo publicado na Revista Executive Health & Welleness, nº 2, Maio de 2008)

9 comentários:

  1. Ótima reportagem, muito esclarecedora e bem detalhada... jogo futebol amadoramente a mais de 10 anos e pelo menos 1 vez por semana e me enquadro no perfil e sintomas.

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  2. Agradeço a simpática mensage, Dou por bem empregue o meu tempo e o que escrevo quando consigo ajudar e informar as pessoas. Raul Oliveira

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  3. muito bom comentario, também numa jogatana ocasional, troxe uma lesa nos gemeos internos e externo, com edema quando fazia corrida normal sem qq contacto com ninguem.
    Tenho feito gelo e repouso o mais possivel.
    Agora terei de fazer alguma fisio especifica, é que ainda tenho dificuldade em caminhar, ja vai fazer 15 dias agora no proximo sabado.

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  4. Boa tarde. Sim o processo de reparação tecidular ainda decorre e necessita de trabalho especifico (Fisioterapia) antes de se poder reintegtrar graudualmente na actividade desportiva. Se regressar muito cedo e não estiver devidamente preparado pode haver uma recidiva, pelo que aconselho a procurar um apoio/orientação de um Fisioterapeuta com experiência no tratamento destas lesões. Apareça sempre. Raul Oliveira

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  5. Olá tenho 52 anos e á dois dias no final de um jogo de squash tive uma lesão nos gemeos que na altura confundi com uma caibra, os sintomas foi como está descrito sente-se uma "pedrada" no musculo tenho dificuldade em andar estou a aplicar um creme anti-inflamatorio e vou voltar a colocar gelo (como está explicado no text)pensava que na proxima semana poderia voltar aos treinos mas já vi q a recuperação é lenta, será que no final da primeira semana já poderia fazer bicicleta estatica ?

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  6. Bom tarde: se foi como descreve é bem possível que tenha feito uma lesão muscular nos gémeos (gémeo interno é o mais frequentemente lesado). Se assim for, aconselho a proteger o músculo com uma perneira elástica ou mesmo uma ligadura funcional (intervenção de um Fisioterapeuta), fazer gelo/frio (durante 10/15 min) e procurar nos primeiros 2/3 dias andar apenas o indispensável e com passos curtos e lentos. Só depois de passar as primeiras 48 horas se poderá ter ideia sobre o prognóstico mas se for uma lesão parcial, deve dar mais tempo antes de realizar essa actividade. O creme anti-inflamatório e/ou a massagem não são aconselhados nesta fase aguda. Aconselho procurar a orientação de um Fisioterapeuta com experiência em lesões desportivas e só regressar quando estiver bem, pois o risco de recidiva existe sempre. Raul Oliveira

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    1. olá sr Raul, tenho 37 anos e a cerca de 1 semana que tinha uma ligeira dor por baixo do gemeo, entre o gemeo e o calcanhar, so me doia de manha kuando pousava o pe no chao, durante o dia nao dava dor, na sexta feira num jogo de squash fiz um arranque mais agressivo e deu me uma dor mais intença mas entretanto passou continuei a jogar, na segunda feira voltei a jogar e depois de aquecer estava a treinar e num arranque senti tipo um estalo e um choque, fiquei logo sem conseguir andar, fiz gelo 15m e uma amiga fisioterapeuta fez me um ligadura funcional, passadas 16 horas continuo na mesma sem conseguir andar.
      gostava de saber a sua opinião sobre qual o tratamento k devo seguir e quanto tempo devo estar sem jogar.
      obrigado

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  7. MT obrigado pelos conselhos percebi que devo procurar um Fisoterapeuta especialista na area desportiva

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  8. Sim é esse o m/ conselho. Relembro o que escrevi no post "Sabemos que o processo de reparação tecidular muscular bem sucedido (em termos anatómicos) pode-se fazer em cerca de 3 semanas, mas a remodelação completa e a (re)aquisição das características de força, flexibilidade, coordenação neuromuscular exigem mais tempo e sobretudo um planeamento gradual de reintegração no treino (ao longo de 2 a 3 semanas nos caso mais graves) evitando na fase inicial os movimentos a elevada velocidade, as mudanças bruscas de direcção e/ou velocidade.

    O músculo lesado apenas estará totalmente recuperado em termos funcionais e plenamente integrado na sua cadeia cinética de movimento após um programa de reeducação funcional onde entram os exercícios de flexibilidade e de fortalecimento específicos numa fase inicial e os gestos específicos da modalidade numa fase mais tardia.

    Boa recuperação. Raul Oliveira

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