terça-feira, 30 de dezembro de 2008

LESÕES NOS JOVENS ATLETAS


Lesões nos jovens desportistas: diferentes dimensões de um problema

As crianças e adolescentes estão mais vulneráveis às lesões desportivas não só porque participam cada vez mais cedo e mais intensamente na prática desportiva como também estão num processo de crescimento rápido e de maturação neurobiológica, num ambiente psicossocial cada vez mais competitivo e selectivo.

O padrão de ocorrência de lesões (tipos, causas e sua distribuição) nos jovens adolescentes é semelhante ao que acontece nos desportistas profissionais adultos (American Academy of Orthopaedic Surgeons, AAOS, 2003)

No atleta jovem que ainda está no processo de crescimento/desenvolvimento (particularmente rápido no “spurt period”), as cartilagens de crescimento existentes nas extremidades dos ossos longos (epifíses) são particularmente vulneráveis a lesões por sobrecarga mecânica (forças de compressão). Isto acontece quer nos desportos de contacto onde são frequentes os macrotraumatismos (futebol, rugby, andebol, basquetebol, judo, luta, etc.) quer nos desportos que exijam repetições exaustivas dos mesmos movimentos (ginástica, patinagem artística, natação, etc.) gerando microtraumatismos repetidos cujos efeitos cumulativos excedem a capacidade de adaptação biológica da estrutura osteo-articular aos esforços solicitados (Norris, 2004; Caine, DiFiori & Maffuli, 2006).

Nas zonas osteo-articulares de inserção músculo-tendinosa (normalmente apófises) e capsulo-ligamentar as lesões ocorrem por forças de tracção repentinas exercidas por essas estruturas que nos jovens são mais fortes e resistentes que os locais de inserção, podendo originar a sua inflamação e nos casos mais graves lesões (fracturas) por arrancamento ou avulsão (Norris, 2004; Caine, DiFiori & Maffuli, 2006). Estas lesões são mais frequentes no joelho, calcanhar (calcâneo) e cotovelo (Cassus & Cassettari-Ways, 2006).

Outra característica destas idades (10-16/17 anos) que constitui um aspecto vulnerável está relacionado com os diferentes ritmos de crescimento acelerado que existe entre os ossos e os músculos e ligamentos. O pico de crescimento ósseo antecede o pico de crescimento dos tecidos moles (AAOS, 2002). Este facto aumenta a susceptibilidade de lesões nos locais de inserção dos tendões e ligamentos.

Por outro lado os ritmos de crescimento e maturação neurobiológica são individuais e determinados pela interacção entre factores genéticos e factores ambientais. Como a divisão por escalões em todos os desportos se fazem exclusivamente por idade cronológica, pode acontecer que se tenha dois jovens com a mesma idade cronológica mas com perfis maturacionais muito distintos. Esta diversidade maturacional entre opositores, particularmente nos desportos de contacto e/ou nos desportos onde a força muscular seja uma componente importante pode constituir um risco acrescido de lesão para o jovem com um estadio maturacional menos desenvolvido.

Por último o crescimento acelerado dos diferentes segmentos corporais pode não ser de imediato acompanhado por uma coordenação neuromuscular e um controle postural eficientes originando um risco acrescido em alguns gestos desportivos mais complexos ou em situações imprevistas e bruscas que exigem respostas nem sempre eficazes. Os treinadores destes jovens conhecem bem estes períodos em que os seus atletas parecem mais descoordenados, mais lentos e com menor capacidade de resposta a situações novas e/ou imprevistas.

UMA CRIANÇA OU UM JOVEM NÃO É UM ADULTO EM PONTO PEQUENO. APRESENTA UMA REALIDADE ÚNICA EM PERMANENTE EVOLUÇÃO E DESENVOLVIMENTO. AS LESÕES RESULTANTES DA PRÁTICA DESPORTIVA EM CRIANÇAS E JOVENS TÊM CARACTERÍSTICAS ESPECIFICAS QUE É NECESSÁRIO COMPREENDER.

Raul Oliveira Fisioterapeuta
Equlibri_us - Gabinete de Fisioterapia
raulov@netcabo.pt
Faculdade de Motricidade Humana

Sem comentários:

Enviar um comentário