terça-feira, 12 de maio de 2009

INSTABILIDADE CRÓNICA DA TIBIO-TÁRSICA (2)

A lesão capsulo-ligamentar da tíbio-társica, resultante normalmente de mecanismos de entorse, é das lesões mais comuns, e após dois ou mais entorses de média gravidade num reduzido período de tempo, pode surgir a instabilidade crónica do tornozelo que, por sua vez, aumenta o risco de novos entorses (Ross, et al., 2008), promovendo a incapacidade funcional nas actividades mais exigentes.

Recordemos que a instabilidade crónica da tíbio-társica pode ser considerada uma disfunção associada a 2 factores potenciais que interagem: a instabilidade mecânica passiva e a instabilidade dinâmica funcional.

ver INSTABILIDADE CRÓNICA DA TIBIO-TÁRSICA (1)


A instabilidade dinâmica funcional está relacionada com perturbações cinestésicas que alteram a actividade reflexa artrocinemática após lesão ligamentar (Hertel, 2002, Claire E. et al, 2004), com a repetição de mecanismos de entorse por ineficiência desses mecanismos de protecção/estabilidade articular e ainda com a sensação subjectiva de instabilidade (Karlsson & Chan, 2005).

Sempre que há uma lesão capsulo-ligamentar há também uma perturbação da informação proveniente dos mecanoreceptores articulares, causando desaferenciação parcial da articulação. Este facto promove altera o normal funcionamento do controlo neuromuscular, resultando numa diminuição da estabilização da articulação, por alteração dos padrões neuromotores, e por último, contribuindo para mecanismos de entorse de repetição cada vez mais fáceis de acontecer originando perturbações na funcionalidade do segmento (Lephart & Fu, 2002).

Como a informação proprioceptiva é uma das fontes de informação envolvidas no controle da postura e do equilíbrio dinâmico, as lesões capsulo-ligamentares afectam negativamente esse controle, em virtude da laxidão ligamentar residual e dos défices sensório-motores que surgem sobretudo se o tratamento não for o mais adequado.

Nos quadros de instabilidade crónica da tibio-társica, têm sido referidas modificações na percepção de posição da articulação (Chang et al., 2001), alterações no tempo de reacção dos peroniais ao movimento de inversão/flexão plantar repentino e alterações da velocidade de condução do impulso nervoso (Lephart & Fu, 2000)


O binómio funcional mobilidade/estabilidade do tornozelo, como em qualquer outra articulação, depende da interacção entre factores de natureza estática (carga, morfologia osteo-articular, estruturas capsulo-ligamentares e forças de coesão intra-articular) e factores dinâmicos ou funcionais como os relacionados com a função neuromuscular (força, stiffness e coordenação intra e intermuscular) assim como a operacionalidade/eficiência do controlo motor assegurado pelo sistema nervoso.


Freeman et al. (1965) afirmaram que uma lesão da tíbio-társica pode danificar a função dos receptores aferentes localizados nos ligamentos e cápsula articular, levando a uma alteração do sistema de controlo postural.
As alterações da propriocepção articular, após a ocorrência de lesão cápsulo-ligamentar da articulação tíbio-társica, diminuem o feedback sensorial aferente da articulação lesionada, resultando num aumento da oscilação postural (Lephart et al., 1997). Estes défices proprioceptivos dos ligamentos do tornozelo podem também ocorrer devido a fraqueza dos músculos responsáveis pela estabilização e oscilação postural (Lephart & Fu 2000).
Raul Oliveira, Fisioterapeuta
Equilibri_us - Gabinete de Fisioterapia
Av. D. João I, nº 8, Oeiras
309 984 508 /917231718
Faculdade de Motricidade Humana

Sem comentários:

Enviar um comentário