domingo, 25 de janeiro de 2009

LOMBALGIA NOS JOVENS


Reproduzo aqui o resumo de artigo publicado pelos nossos colegas da região centro e cumprimento-os pelo excelente trabalho que têm feito no âmbito da saúde pública.

RAQUIALGIAS NA ENTRADA DA ADOLESCÊNCIA : ESTUDO DOS FACTORES CONDICIONANTES EM ALUNOS DO 5º ANO

Emanuel Vital; Maria João Melo; Ana Isabel Nascimento; Ana Roque

IN REVISTA PORTUGUESA DE SAÚDE PÚBLICA
Vol. 24 – nº 1 – (Janeiro/Junho 2006).


Objectivo: identificar os factores de exposição associados às queixas de raquialgias em alunos do 5º ano de escolaridade.
Relevância: segundo a OMS, as estratégias de promoção da saúde deverão ser dirigidas para a redução dos factores de risco. Estudos epidemiológicos referem um aumento continuado da taxa de incidência das dores nas costas nos adolescentes e identificaram uma associação entre queixas de raquialgias nas crianças e raquialgias na idade adulta. As dores nas costas parecem resultar da interacção de factores orgânicos, biomecânicos e psicossociais. Constata-se que vários estudos apresentam resultados contraditórios em relação à influência daqueles factores. O presente estudo insere-se num trabalho na área dos cuidados de saúde primários que visa identificar características psicossociais, hábitos comportamentais, condição física e estado de saúde de adolescentes da área de influência de dois centros de saúde.

Amostra: 215 sujeitos (rapazes: n = 120; raparigas: n = 95; idade = 11 anos ± 9 meses), correspondendo a 97,3% dos alunos do 5.o ano de escolaridade de dois concelhos da Região Centro de Portugal.

Material e métodos: as características físicas dos sujeitos foram avaliadas em protocolo de exame físico. Para avaliar as características psicossociais, hábitos alimentares e de actividade física, estado de saúde, percepção da qualidade de vida e condições sócio-económicas foram utilizados itens de um questionário da OMS validado para a população portuguesa e cedido especificamente para este estudo. O estudo piloto decorreu entre Novembro e Dezembro de 2003, sendo as colheitas de dados efectuadas entre Fevereiro e Abril de 2004.

Análise estatística: foram utilizados o coeficiente de correlação intraclasse (ICC) e testes não paramétricos para testar o nível de concordância das respostas, o teste do qui­-quadrado serviu para testar a independência entre variáveis e o odds ratio (OR) foi utilizado para quantificar as associações encontradas. Foi adoptado o nível de significância de 0,05 e um intervalo de confiança de 95%.

Resultados: os sujeitos da nossa amostra, na sua maioria (56,7%), não se queixavam de dores nas costas; a taxa de incidência nos últimos seis meses era de cerca de 15,8%; daqueles que referiram ter tido dores nas costas, 21,4% afirmaram que a duração das queixas foi superior a um dia. Não se verificou existir associação estatisticamente significativa entre a frequência de dores nas costas e as variáveis relacionadas com os hábitos comportamentais, condições sócio-familiares e económicas, escola, características da mochila, o peso dos sujeitos, o índice de massa corporal, o rácio cintura/anca, a força muscular, a idade e o sexo, apesar de os dados sugerirem que existem mais raparigas do que rapazes a referirem dores nas costas. Verificou-se a existência de associação entre dores nas costas e queixas psico-somáticas diversas (dores de cabeça, tonturas, fadiga, medo, percepção do estado de saúde), hábitos de actividade física (tempo passado a ver televisão e jogar computador), tempo em que transporta a mochila percepção do peso da mochila, altura, comprimento dos membros inferiores, distância das mãos ao chão e rácios musculares extensores/abdominais e extensores/flexores laterais.
Conclusões: os dados deste estudo reportam-se a um conjunto de adolescentes constituído por sujeitos com diferentes níveis de desenvolvimento físico, mental e psicológico que de algum modo poderão ter influenciado os resultados obtidos. Foram identificadas, contudo, algumas características físicas dos sujeitos (rácios de força muscular, altura, mobilidade do tronco) que revelaram estar associadas às queixas de dores nas costas. Um dos resultados mais relevantes sugere que o «desequilíbrio muscular» mas não a força muscular, estava associado a queixas de dores nas costas. Estes achados introduzem um novo dado no problema, abrindo possibilidades de intervenção que podem ser implementadas no âmbito da actividade de fisioterapia nas equipas de saúde escolar. Deve-se notar, contudo, que as raquialgias constituem um problema multidimensional e que vários factores poderão estar a condicioná-las nesta amostra, justificando-se a continuidade e aprofundamento deste estudo.

Palavras-chave: adolescentes; comportamentos de saúde; raquialgias; vigilância em saúde; promoção da saúde.

Artigo completo em

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